Associação Cultural 25 de Abril

Pugnamos Pelos Valores Democráticos E De Liberdade

Fomos incorporados, como uma sociedade sem-fins-lucrativos, na Lei do Ontário em Setembro, no dia 14 do ano de 1994, pela iniciativa de um grupo de portugueses, que aqui residia, encabeçados pelo saudoso Mário Lebre, pessoa muito conhecida, activa e respeitada no nosso meio. Não podemos, obviamente, olvidar os outros companheiros que o secundaram nesta iniciativa como o Dr. Tomás Ferreira, Walter Lopes, o casal Odete e Carlos Melo, Mário Corte-Real, Henrique Santos, Maria João Lisboa e o Joaquim Paulo (Portugal). Só é pena que alguns destes nossos amigos e, acima de tudo democratas, já não pertençam ao nosso mundo. Partiram para sempre mas a sua obra e o exemplo ficou bem enraizado na nossa comunidade pelo amor a Portugal e ao reconhecimento da ação dos militares de Abril no libertar do povo luso das garras da ditadura e de pôr um fim a uma guerra que se arrastava em África por longos anos causando tanta dor e tanta morte.

Mas não foram só as razões atrás expostas que os levou a formar esta associação mas também para não deixar cair no esquecimento todos estes valores sagrados da Liberdade, Fraternidade, Democracia e Igualdade que, nas suas mentes, tinham, e têm ainda hoje, muito apreço e que são valores que não se podem voltar a perder, mais uma vez, como no passado.

Aqueles nossos compatriotas foram bastante activos, mesmo antes da formação da Associação Cultural 25 de Abril, anteriormente à queda do fascismo, e aqui, no Canadá, se vinham manifestando defronte do nosso Consulado-Geral na era do fascismo. Depois de Portugal libertado, em 1974, seguiu-se a luta pela libertação de Timor-Leste, bem como contra as ditaduras militares vigentes no Chile, Espanha, Brasil e Argentina onde a oposição democrática era silenciada nos cárceres, nas execuções sumárias e no desparecimento dos detidos muitos deles, torturados e executados após que eram atirados para a vala-comum, em lugares não especificados ou identificados.

Lutámos e vencemos graças às nossas vozes unidas a outras vozes à volta do mundo e a nossa luta continuou contra o Apartheid. Vencemos mais uma vez. Fomos milhões e fizemos eco no derrube desses governos opressivos. Juntámo-nos a outras grandes manifestações, aqui em Toronto, como foi a da invasão do Iraque cuja factura estamos ainda hoje a pagar pela destabilização daquele país do Médio Oriente além do argumento apresentado para a invasão – o fabrico de armas de liquidação maciça – que, posteriormente, foi provado ser falso.

Agora, mais uma vez, adivinhamos, pela experiência do passado, que estamos a caminhar para outra turbulência, esta de envergadura, a nível global, sob a batuta dum governo único, onde haja quem alvitre numa Super-Dermocracia apenas com a mudança de nome (já há casos) e onde a privacidade e os valores de liberdade e democráticos serão simplesmente suprimidos, ou restritos, para dar lugar à Nova Ordem que nos será imposta a bem dos interesses de apenas duma meia-duzia, que queiramos ou não, serão os “donos” disto tudo.

Este pequeno, mas activo número de nossos conterrâneos achava que havia uma lacuna do após o 25 de Abril – o falhanço de vigiar o processo democrático pois todos sabemos que há muitas maneiras de a democracia se impor e, uma delas é a chamada “musculada” que se vê, ainda hoje, em países onde a “democracia” só é conhecida pelo nome. Aliás Estaline, Mussolini e Hitler chamavam aos seus “reinos” de democráticos que, como é sobejamente conhecido era o inverso pois naquelas ditaduras vigorava o despotismo, o assassinato em massa, o espizinhar dos direitos humanos e as liberdades. De Democracia, só o nome, nada mais.

Afirmamos que a democracia nesses países oscila com os valores, não democráticos pois estes não têm cotação, mas dos impérios do capital. Fala-se também, por todo o lado, muito nela, na Democracia, mas pouco se pratica, ou se sabe. Sem nos querermos alongar muito apenas queremos acrescentar que a democracia é manipulada por forças poderosas que nos bastidores, e até abertamente, muitas minorias, mas com o peso dos bilhões de dólares, ou euros, tudo conseguem, tudo corrompem, até alguns governantes que têm o sublime dever de nos proteger. Tudo isto em nome da “democracia” e da “liberdade” dos povos oprimidos essas minorias mas cujos interesses velados e ocultos, mandam efetivamente em muitos dos nos nossos governos e desta forma em todos nós.

Os nossos fundadores são originários de dois clubes pioneiros desta nossa comunidade – o First Portuguese Club e da extinta (cremos que estamos certos) Associação Democrática. Depois outros elementos se juntaram e outros se foram quiçá desiludidos porque queriam “revoluções” ou mais radicalismo. Nada disso. Somos todos políticos apartidários. Temos as nossas convicções mas acima de tudo respeitamo-nos mutuamente sem quezílias e convulsões negativas que muitas vezes destrói o senso-comum e o trabalho erguido de boa fé e com altruismo. Empenhamo-nos, e usamos, os meios democráticos que o pluralismo nos concede, no alertar, criticar, informar e aconselhar os nossos concidadãos para os perigos do poder absoluto, que nos espreita, continuamente, e que muitas vezes nos são impingidos com diferentes nomes, sorrisos e máscaras, dependendo da época e das modas mais em foco, para deste modo não sermos, no final, arrastados pelo canto da “sereia” que pulula a politica nacional e não só.

Sabemos que Portugal está muito melhor que no tempo da ditadura mas que há ainda muito para corrigir ou arrepiar caminho. Descurou-se, por exemplo, o ensino dos valores de Abril nas escolas e universidades e acima de tudo entregámos, de mão-beijada, esses sagrados valores quando aderimos à Comunidade Europeia pela negociação dos nossos representantes devidamente legalizados e mandatados. A Democracia ofertada à nação pela Revolução de Abril está neste preciso momento em perigo causado pela politica de austeridade selvagem. Estamos na iminência, e em perigo, de deixarmos de ser uma pátria soberana, de todos nós, para nos transformarmos numa “Província” regional europeia, com o nome de Portugal e sem benefício para o cidadão tudo em prol do lucro fácil. É só lermos as notícias que diariamente nos chegam, pelos três meios da comunicação social, para tecermos uma visão da teia que nos está reservado para um futuro mais ou menos próximo.

Aqui, no Ontário, somos, talvez, a coletividade mais pequena em número de elementos mas muito grande em valores democráticos. Representamos a nossa casa-mãe, a Associação 25 de Abril, com sede em Lisboa, e temos como patrono um Homem (com um “H” maiúsculo), o saudoso Capitão Salgueiro Maia, que liderou naquela madrugada do dia 25 de Abril de 1974 uma força militar que derrubou o então governo ditatorial vigente.

O Capitão Maia regressou depois às casernas e recusou honrarias e benesses. Foi humano, honesto, puro e incorrupto, muito diferente de muitos dos nossos lideres que, posteriormente, “caíram de paraquedas” e têm feito as tropelias mais disparatadas na gestão do país. O Capitão Maia morre precocemente de cancro no dia 4 de Abril de 1992, e já com o mal declarado, e debilitado pela doença que o afligia, foi-lhe recusado, em 1989, a atribuição duma pensão por “serviços excepcionais e relevantes”. A correção, ou remendo, desta injustiça só foi feita anos depois nas comemorações do 10 de Junho de 2012, em Santarém, onde finalmente lhe foi atribuida. a tão ansiada pensão na pessoa de sua esposa (viúva) Natércia Maia.

Vale mais tarde do que nunca lá diz aquele velho adágio popular.

Que mais temos para dizer perante estes factos? Nada. Mesmo nada. Mas ficamos tristes pelas falhas de memória que muitos de nós padecemos…

Existimos pois para, pela via democratica, informar, sensibilizar e alertar dos muitos perigos que nos podem afectar se não sermos participativos na vida comunitária ou das que formam o mosaico multicultural onde estamos inseridos, ou onde vivemos. Também devemos marcar presença nas eleições locais, e de não nos mantermos silenciosos em vez de protestarmos, pelas nossas vozes, perante os legitimos representantes dos nossos governos, de tudo que possa ser uma ameaça às nossas liberdades como cidadãos deste nosso grande país de adopção.

Para terminar queremos referir que voltámos, recentemente, às fileiras da Acapo por termos, ao longo deste últimos anos, verificado que necessitamos estar unidos cada vez mais e só, tal como uma argamassa homogénea, a nossa Comunidade luso-canadiana e todas as outras que aqui também labutam honestamente para o engrandecimento do Canadá é que teremos aquela força e aquela voz potente para que os nossos governantes saibam que “existimos” e nos escutem, e também auscultem os nossos anseios, pois o nosso voto poderá vir a decidir favoravelmente, ou não, em muitas eleições futuras.

Mas para que isto possa acontecer temos primeiramente que nos organizarmos e passar a palavra uns para os outros e estarmos unidos. O nosso voto é uma força. Que a nossa gente mantenha isto sempre em mente.

Viva o 25 de Abril. Viva a Acapo. Viva os nossos clubes e associações e Viva Portugal e o Canadá.

Contactos

Associação Cultural 25 de Abril

President: Luis Morgadinho

Endereço para correspondência
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Toronto , ON M6J 3P4